O Santo Rosário não é apenas uma composição de Pais Nossos e Ave-Marias. O Santo Rosário é o resumo da vida, paixão, morte e glória de Jesus e Maria. Que a sua simplicidade não nos engane: trata-se de uma oração singela, porém profundíssima, inefavelmente sublime e divina, recomendada por uma multidão de santos e autorizada pelos diversos papas. As orações que o compõe justificam sua grandeza: por um lado, o Credo, no qual afirmamos nossa fé em todas as verdades mais centrais do cristianismo; o Pai-Nosso, cuja perfeição supera todas demais, uma vez que foi criada e ensinada pelo próprio Cristo e é, conforme diz Tertuliano um resumo do evangelho; a Ave-Maria, também chamada de Saudação Angélica, na qual honramos Maria e pedimos dela tudo de que temos necessidade, e isso nos dois momentos mais importantes de nossa vida, isto é, “agora” e “na hora de nossa morte”; e o Glória, que é o apogeu da contemplação, pois Cristo é o caminho que nos conduz ao Pai no Espírito.
Em si, a palavra Rosário significa “coroa de rosas”. As crônicas de São Francisco [1] fazem referência a um relato admirável acerca deste nome, que não é apenas um enfeite: certa vez testemunharam vários freis com seus próprios olhos que, a cada Ave-Maria que rezamos, uma linda rosa sai de nossa boca, é coletada pelos anjos e depositada uma a uma na cabeça de Nossa Senhora, que não se ausenta até ver tecida uma belíssima coroa de rosas.
O Rosário não é apenas oração vocal, mas, sobretudo, oração mental. Nele, não apenas recitamos as orações que o compõe, mas também meditamos os principais mistérios da vida, morte e glória de Jesus Cristo e de sua Santíssima Mãe. Sendo assim, o Rosário não é, de forma alguma, uma repetição mecânica de fórmulas pré-fabricadas: deve ser feito num ritmo tranqüilo e com uma certa demora no pensar. Afinal, o centro do Rosário é a contemplação, e a contemplação, a pedagogia da santidade. Mas o que significa contemplar? São João Paulo II, em sua encíclica Rosarium Virginis Mariae diz que contemplar é “fixar os olhos no rosto de Cristo, reconhecer o seu mistério no caminho ordinário e doloroso de sua humanidade, até perceber o brilho divino definitivamente manifestado no Ressuscitado glorificado à direita do Pai.” Vamos então, aos poucos, nos tornando naquilo que contemplamos. Com o tempo, o contemplado vai se tornando parte daquele que contempla; os mistérios de Cristo e Nossa Senhora vão sendo incorporados no nosso dia-a-dia, e vamos imitando suas ações, seus ensinamentos.
Quem nos ensina a arte da contemplação é Nossa Senhora. Maria praticou de modo insuperável a contemplação. À contemplação do rosto de Cristo ninguém se dedicou com a mesma assiduidade que Maria. Cabe-nos até mesmo formular uma pergunta inusitada neste ponto: Nossa Senhora rezava o Rosário? A resposta é igualmente inusitada: sim, Nossa Senhora rezava sim o Rosário, na medida em que percorria o pensamento várias vezes ao dia nos diversos momentos da sua vida junto com seu Filho: “Conservava todas estas coisas, ponderando-as no seu coração.” (Lc 2,19) “Foram estas recordações que constituíram de certo modo, o Rosário que ela mesma recitou constantemente nos dias da sua vida terrena.”, nos diz São João Paulo II. Assim, quando rezamos o Rosário nos sintonizamos com a lembrança e com o olhar de Maria. Percorrer com Maria as cenas do Rosário é freqüentar a escola de Maria para ler, amar e imitar a Cristo.
Devemos nos esforçar constantemente a rezar melhor o Rosário. O que então é necessário para bem rezá-lo? Diz-nos São Luis Maria: “É preciso que aquele que se aproxima de Deus pela oração comece por crer, e quanto mais fé ele tiver, mais sua oração terá força de mérito em si mesma e dará glória a Deus”. Além disso, não devemos desanimar mesmo se sentimos que não conseguimos ainda nos concentrar, ou se sentimos muita aridez ao rezá-lo, pois “não devemos buscar na prática do Santo Rosário apenas nosso gosto sensível e nossa consolação espiritual, ou seja, não devemos abandoná-lo porque temos uma multidão de distrações involuntárias no espírito, um desgosto estranho na alma, um tédio tórrido e uma apatia quase contínua no corpo; não é necessário gosto nem consolação, nem suspiros, nem arroubos, nem lágrimas, nem aplicação contínua da imaginação para recitar corretamente seu Rosário. A fé pura e boa intenção são suficientes.”
Exortação: Várias aparições de Nossa Senhora, como Lourdes e Fátima nos incitam à recitação diária do Santíssimo Rosário. É um pedido de Nossa Senhora, que urge e se faz cada vez mais necessário em nossos tempos turbulentos e repletos de desafios. Não deixemos de rezar o Santo Rosário diariamente!
Curiosidade: Somente a partir do ano de 2002 que surgem os mistérios luminosos com a encíclica papal “Rosarium Virginis Mariae, de São João Paulo II.
1. “As crônicas de São Francisco contam que um jovem religioso tinha o costume louvável de rezar todos os dias, antes de sua refeição, a coroa de Nossa Senhora. Um dia, não se sabe por qual razão, ele deixou de rezá-la. Tendo soado a hora do jantar, ele pediu permissão ao superior para recitá-lo antes de se sentar à mesa. Com a permissão, ele se retirou em sua cela; todavia, como ele demorava muito, o superior enviou um religioso para chamá-lo. Esse religioso o encontrou em seu quarto, brilhando por inteiro com uma luz celestial, e Nossa Senhora com dois anjos junto dele; à medida que recitava uma Ave Maria, uma linda rosa saia de sua boca, e os anjos pegavam as rosas umas após as outras e as colocavam sobre a cabeça de Nossa Senhora, que demonstava aprovação. Dois outros religiosos enviados para ver a razão do atraso dos demais contemplaram toda a cena, e a Santíssima Virgem não se retirou enquanto a coroa não foi recitada.” O Segredo admirável do Santíssimo Rosário, de São Luís Maria Grignion de Montfort, pág. 32.