Em sua última obra, “A ciência da cruz”, Edith Stein (filósofa judia que se converteu ao catolicismo e que foi martirizada na 2ª guerra mundial) apresenta-nos um conceito muito iluminador, ao qual vale a pena darmos atenção.
Através do conceito de “objetividade dos santos”, a filósofa e mística denuncia que nos encontramos habitualmente fora da realidade. O caminho da santidade, por outro lado, deve ser aquele que permite instalarmo-nos na realidade. Em outras palavras, “a objetividade dos santos” é a capacidade (própria daqueles que já participam mais plenamente na terra da vida divina) em firmar-se na realidade, isto é, de captar habitualmente as coisas tais como realmente são (não só pela inteligência, mas pelo ser inteiro, isto é, pelo coração), sem desconsiderar o seu significado e seu valor próprios.
Tal capacidade contrasta com a nossa habitual indiferença, que muitas vezes indica o quão distantes estamos da realidade. Por isso, chamamos muitas vezes a ilusão de verdade, e a verdade de ilusão. Para estar na verdade, porém, é preciso compreendermos as coisas plenamente, isto é, em toda sua extensão.
Vejamos o que diz Stein a este respeito:
Existem sinais naturalmente perceptíveis a indicar que a natureza humana, tal qual a conhecemos, encontra-se em estado decaído. Daí a incapacidade de aprendermos intimamente os fatos segundo seu verdadeiro valor e de reagirmos adequadamente a eles. […] O exemplo dado pelos santos mostra o que deveria acontecer: quando de fato se crê, as verdades da Fé e as obras maravilhosas de Deus tornam-se conteúdo da vida, a ponto de as demais coisas perderem importância ou receberem também a marca desse conteúdo. É a isto que chamamos “objetividade dos santos”, expressão que designa a receptividade interna e primária da alma, renascida pelo Espírito Santo. Tudo quanto se aproximar dessa alma será apropriadamente captado, com profunda sensibilidade. Nela existe uma energia livre, por um lado , de falsas inibições e empecilhos, e dotada, por outro, de sutileza, vitalidade e impressionabilidade suficientes para lhe permitirem ser fácil e prazerosamente plasmada e dirigida por aquilo que acolher. As energias da alma, ao se aproximarem nessas condições das verdades da Fé, chegam à ciência dos santos. E o mistério da cruz, ao tornar-se forma interior, converte-se em ciência da cruz.”
STEIN, Edith. Ciência da Cruz. São Paulo: Edições Loyola, 2014, p. 12-13.