"Vós sois a luz do mundo." Mt 5:13

Categoria: Sementes

O realismo dos santos

Em sua última obra, “A ciência da cruz”, Edith Stein (filósofa judia que se converteu ao catolicismo e que foi martirizada na 2ª guerra mundial) apresenta-nos um conceito muito iluminador, ao qual vale a pena darmos atenção.

Através do conceito de “objetividade dos santos”, a filósofa e mística denuncia que nos encontramos habitualmente fora da realidade. O caminho da santidade, por outro lado, deve ser aquele que permite instalarmo-nos na realidade. Em outras palavras, “a objetividade dos santos” é a capacidade (própria daqueles que já participam mais plenamente na terra da vida divina) em firmar-se na realidade, isto é, de captar habitualmente as coisas tais como realmente são (não só pela inteligência, mas pelo ser inteiro, isto é, pelo coração), sem desconsiderar o seu significado e seu valor próprios.

Tal capacidade contrasta com a nossa habitual indiferença, que muitas vezes indica o quão distantes estamos da realidade. Por isso, chamamos muitas vezes a ilusão de verdade, e a verdade de ilusão. Para estar na verdade, porém, é preciso compreendermos as coisas plenamente, isto é, em toda sua extensão.

Vejamos o que diz Stein a este respeito:

Existem sinais naturalmente perceptíveis a indicar que a natureza humana, tal qual a conhecemos, encontra-se em estado decaído. Daí a incapacidade de aprendermos intimamente os fatos segundo seu verdadeiro valor e de reagirmos adequadamente a eles. […] O exemplo dado pelos santos mostra o que deveria acontecer: quando de fato se crê, as verdades da Fé e as obras maravilhosas de Deus tornam-se conteúdo da vida, a ponto de as demais coisas perderem importância ou receberem também a marca desse conteúdo. É a isto que chamamos “objetividade dos santos”, expressão que designa a receptividade interna e primária da alma, renascida pelo Espírito Santo. Tudo quanto se aproximar dessa alma será apropriadamente captado, com profunda sensibilidade. Nela existe uma energia livre, por um lado , de falsas inibições e empecilhos, e dotada, por outro, de sutileza, vitalidade e impressionabilidade suficientes para lhe permitirem ser fácil e prazerosamente plasmada e dirigida por aquilo que acolher. As energias da alma, ao se aproximarem nessas condições das verdades da Fé, chegam à ciência dos santos. E o mistério da cruz, ao tornar-se forma interior, converte-se em ciência da cruz.”

STEIN, Edith. Ciência da Cruz. São Paulo: Edições Loyola, 2014, p. 12-13.

As duas orientações fundamentais de vida

Viver para si ou viver para o outro: eis as duas orientações fundamentais de vida, isto é, os dois possíveis centros habituais de nossos pensamentos, preocupações, desejos e ações.

Viver para mim mesmo, o que isso significa? Significa que sou o centro habitual do meu próprio mundo; estou fechado para o outro, seja este outro o próximo ou Deus. Toda minha vida é um esforço constante para a auto-realização, para o meu sucesso pessoal, para alcançar a minha própria vitória.

Viver para o outro, por outro lado, significa: esqueço constantemente de mim mesmo. Não sou o centro do meu próprio mundo. Saio de mim e estou aberto para o outro. Sei renunciar às minhas vontades e aos meus caprichos em favor do outro. Além disso, a minha vitória pessoal não é imaginável se os outros não puderem participar de algum modo desta vitória.

Ora, a vida cristã implica numa mudança da primeira para a segunda orientação. Infelizmente, estamos naturalmente inclinados a vivermos para nós mesmos, isto é, no egoísmo. Sem a vida da graça, não conseguiríamos realizar esta conversão de vida. É preciso um auxílio sobrenatural.

Esta conversão, metanoia no grego, carrega um sentido de mudança de pensamento ou coração (meta: mudança; noia: pensamento e coração, pois na linguagem bíblica o coração é a sede do pensamento). No sentido cristão da palavra, falamos de uma mudança radical de vida que nos abre para o outro, isto é, para uma vida na caridade.

Um poderoso símbolo desta abertura é o coração chagado de Jesus, ferido de amor por nós. Por meio desta ferida, podemos estar seguros que a vida de Deus não é um círculo fechado em si mesmo, mas abertura da qual jorra um fluxo incessante de amor que sai de Deus e alcança os homens, atraindo-os constantemente para si e fazendo-os participar de sua vida divina. (Veja a imagem de Jesus misericordioso que Deus pediu à Santa Faustina que fosse pintada).

Sobre compadecer-se e compreender o próximo que sofreu um grande mal, e sobre como perdoar os algozes

É muito fácil falar do mal em abstrato. Mas, quando somos nós mesmos que o sofremos, é como se só a partir de então ele se tornasse real. Antes era uma ideia na cabeça, agora uma realidade diante de nós e dentro de nós… realidade essa às vezes tão física quanto um objeto que se pega e se toca com as mãos.

Como, então, compreender o mal sofrido por outrem? Ora, cada mal tem um objeto próprio e é sempre uma privação a cada vez diferente. A dor da ausência que o mal provoca é também matizada pelo próprio indivíduo, a partir da relação única que ele tem com esse mal. Porque o mal atinge a todos (a Igreja como corpo místico de Cristo) mas de modo mais particular a este ou aquele indivíduo, como uma doença que atinge principalmente um órgão do corpo mas que finalmente acaba prejudicando todo o corpo. E esse mal precisa ser expiado, e nós podemos ter certeza de que corpo místico glorioso (aquele que vai para o céu) estará totalmente purificado. É por isso que são Paulo dizia: “completo em minha carne sofrimentos que faltam ao sofrimento de Cristo”. Em outras palavras, os sofrimentos ainda não expiados do corpo místico de Cristo precisam se completar para que este corpo possa entrar na Jerusalém celeste.

Mas então, como compreender esse indivíduo que sofre um mal, e compreendê-lo de modo particular? Não dá pra compreender sem ao mesmo tempo sofrê-lo, partilhá-lo. Somente compreende quem se compadece, e quem se compadece, compadece porque compreende. A compaixão é um ato bem específico . É algo que alivia o sofrimento de quem é compadecido. Porque é realmente um sofrer-com. Trata-se de colher o sofrimento do outro na intenção de partilhar desse sofrimento para torná-lo mais leve para quem o sofre.

Agora, como perdoar aquele que praticou contra nós um grande mal? Perdoar alguém não significa anular a pessoa que nos praticou o mal. É claro que podemos em um primeiro momento combater o mal evitando pensar nele e também na pessoa que o cometeu. Isto ainda não é perfeito, mas é claramente mais perfeito do que desejar o mal para quem nos praticou o mal. Este anular pode ser um momento dentro de um caminhar em direção a um perdão mais perfeito que deverá se dar no futuro. Porque Deus nos perdoou de coisas muito piores, então, se nós não perdoarmos o outro por coisas menores, corremos o terrível risco de sermos jogados no inferno, exatamente como aquela parábola do homem que tem uma dívida perdoada mas que logo depois não perdoa uma dívida menor. Então o senhor se ira contra ele….

Devemos ter em mente que a pior consequência possível de alguém ter sofrido um grande mal é a de desejar o inferno para aquele que nos feriu. Isso se dá porque o ápice do ódio é saber exatamente o que é o inferno e desejá-lo para o outro. É um ódio demoníaco porque só o demônio o tem por completo, por ser o mais corrompido e o mais perdido de todos… Além disso, o inferno é uma realidade que supera toda imaginação, de modo que seríamos injustos ao desejarmos o pior de todos os males àquela pessoa que não pôde cometer contra nós senão um mal limitado. Com efeito, tamanha é a benevolência de Deus, que Ele não permite que nos ocorram males maiores do que aqueles que nos são suportáveis.

Amar com o amor de Jesus… Esse é o complemento fundamental daquele mandamento que é dito resumir todos os demais. “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo” – isso os judeus já tinham. Mas amar como Jesus amou isso não é próprio de nenhum judeu, mas de um cristão. Desse modo penso que Cristo não mandou que nós fôssemos indiferentes aos inimigos, mas que os amássemos… Como amar quem nos fez muito, muito mal? Seria hipocrisia da nossa parte afirmar que há resposta imediata ou uma fórmula para esta tão dramática questão. No entanto, arriscaria dizer que uma coisa que ajuda muito é ir progressivamente assimilando o quanto aquilo que aconteceu realmente foi transfigurado pelo amor de Deus em grandes graças. O algoz se torna então um colaborador na nossa santificação. Afinal “Tudo coopera para o bem daqueles que amam a Deus”.

Tenho essa convicção que as maiores graças de Deus vem no sofrimento, já que as maiores graças são aquelas que melhor nos configuram a Cristo, e ninguém se configura melhor a Cristo do que quem aprende a imitá-lo na sua paixão, isto é, aprende a se sacrificar pelo outro por obediência (Deus mandou perdoarmos, então perdoar é em primeiro lugar um gesto de obediência).

A beleza dói

“Tarde te amei, ó beleza tão antiga e tão nova! Tarde demais eu te amei! Eis que habitavas dentro de mim e eu te procurava fora! Eu, disforme, lançava-me sobre as belas formas das tuas criaturas.” – Santo Agostinho

O homem, desde que é homem, contempla o céu. Digo: desde que é homem, isto é: desde aquilo que é lhe é próprio, desde sua humanidade. Os animais não participam da contemplação. Não volvem o olhar para cima, mas devotam sua vida inteiramente ao que está imediatamente abaixo. Eis uma etimologia de homem: do grego “anô athron“, isto é, olhar para cima. É verdade que também o homem participa da animalidade; de modo especial, quando se alimenta notamos que seu olhar se volve abaixo e, a depender dos seus modos à mesa, assemelha-se em tudo com um animal.

Quando, contudo, o homem contempla, ele é humano. Se o alimento material o obriga a olhar para baixo, a contemplação, que é alimento da alma, o eleva para cima. São duas forças diferentes: uma conduz ao que é corruptível e a outra ao incorruptível. Uma ao material, a outra, ao imaterial. Assim, se é verdade que o humano do homem é sua alma, ainda que unida ao corpo, então a contemplação se apresenta como um ato propriamente humano.

Quando estamos na presença de um céu estrelado, sentimos como que um magnetismo que nos faz olhar para cima. Mas o que o atrai o homem para a contemplação do céu? Aristóteles dizia que o mundo supralunar era povoada por seres perfeitos, porque imóveis, incorruptíveis, imutáveis e eternos. Com efeito, ao olhar para o céu, o homem descobriu não só uma maravilhosa ordem a reger o universo, ou seja, descobriu o Logos que é a razão de tudo que existe, mas também a morada dos deuses. Descobriu, portanto, para onde quer ir.

Aristóteles dizia que o bem é aquilo a que todas as coisas tendem, visam, miram. Portanto, o bem exerce uma força de atração sobre o homem. O bem não é, portanto, uma força neutra, mas uma força que nos impele para as alturas. Alguns séculos depois, Tomás de Aquino nos disse que a beleza e o bem são realidades conversíveis entre si, dado serem transcendentais. O bem e o belo podem ser distinguidos, mas não podem ser separados. Toda beleza, com efeito, manifesta alguma bondade; e toda bondade, por sua vez, manifesta alguma beleza.

Quem já teve a chance de contemplar um céu verdadeiramente povoado de estrelas e luzes, já percebeu a verdade dessas palavras. Somos atraídos para o olhar, porque o céu é a um só tempo belo e bom; e porque é belo é bom, e porque é bom é belo. O céu, podemos dizer, atrai o olhar do homem e depois o cativa. Deixa o homem cheio de desejo: ele quer unir-se àquela beleza, mas ainda não pode. É precisamente aí que sofre. Porque a beleza nos faz verdadeiramente sofrer.

Faz-nos sofrer porque não podemos ainda unirmo-nos inteira e definitivamente à ela, embora a desejemos ardentemente. E este desejo cresce na medida do nosso conhecimento. Por isso, quanto mais conhecemos, mais desejamos, e quanto mais desejamos, mais amamos. E quanto mais amamos, mais sofremos as delícias do amor e passamos a desprezar tudo aquilo que não é o amado. É por isso que os filósofos antigos, que amavam o Logos, assim como os santos, que amam a Deus, vão se tornando mais e mais incompreensíveis para o homem comum, que está demasiadamente ocupado com seus afazeres cotidianos, e não tem tempo para a Philia, isto é, para o amor-amizade. É por isso que olham para os filósofos e os santos e pensam: como podem ter deixado tudo para trás e desprezado as coisas do mundo? Como podem sofrer a gosto? E a resposta é muito simples, e por isso mesmo nos confunde: é por amor!

Inacabado?

Ao iniciar a leitura da Suma Teológica antes de ontem me vi tomado por um certo desânimo, com o qual logo me encontrei em vias de arrolar todos os motivos que tenho para desistir desde já deste projeto. Afinal, pensei comigo: a) A Suma é tão grande e eu, tão pequeno; b) Tomás é um gênio, e eu, tão limitado; c) A Suma tem tantas páginas, e eu, tantos afazeres.

Mas eis que hoje à noite me vi inspirado por certos pensamentos que quero agora compartilhar. Em primeiro lugar me vi a perguntar:

Quantas coisas será que terei que deixar inacabadas ao morrer?

E logo essa pergunta se tornou outra, a meu ver mais importante:

Quais são as coisas que eu não posso de forma alguma deixar inacabadas?

E com isso fui me sentindo mais aliviado, até o ponto de ficar feliz. Mas o que aconteceu com minha angústia?

Preciso reconhecer que recebi uma valiosa ajuda de um grande autor espiritual, o Lorenzo Scupoli, que em minha leitura espiritual diária pela manhã me serviu como aquela “voz de Deus que fala pelas criaturas“: no Capítulo 20 de sua obra “O combate espiritual”, Lorenzo ensina-nos como “atomizar” nossas dificuldades. Assim, quando estamos desanimados por uma tarefa muito grande e difícil, devemos fazer uma operação psíquica de divisão. Como assim? Pegamos o que é complexo e dividimos em partes menores. Como manobra adicional, focamos nossa atenção toda nessa tarefa, com se estivéssemos a imaginar que não temos outra tarefa a realizar senão aquela com a qual nos ocupamos neste momento.

Assim, nos aliviamos daquela ansiedade que sentimos ao iniciar uma tarefa já pensando em tudo o que ainda não realizamos, isto é, aquilo que ainda temos por fazer. Mas esse pensamento é fonte de muita angústia, porque, ainda que avancemos bastante, não nos sentimos nunca satisfeitos, visto que a balança dos nossos feitos pesa sempre contra nós, isto é, há sempre muito mais coisas que temos que deixar inacabadas hoje do que realmente terminadas. E detalhe: precisamos ir dormir com isso, todos os dias.

Foi então que um outro pensamento me invadiu, penso que sob a influência de Santa Teresinha, esta santa da “pequena via”, que sempre esteve tão próxima de mim, visto que moro há 27 anos perto de uma paróquia que leva seu nome.

Santa Teresinha me ensinou que talvez o mais importante não seja fazer muitas coisas, mas fazê-las bem, sejam elas pequenas ou grandes, oferecendo-as todas como oferta agradável a Deus. Desse modo tudo estará, ao final do dia, completo, ainda que faltem muitas coisas por fazer. É que o que realmente importa não é terminar de realizar todos nossos projetos , pois de nada adiantaria terminá-los se eles não tivessem o preenchimento correto – seriam ocos. Com efeito “Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam; se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela.” (Sl 127)

Mas o que é isto que deve preencher tudo o que fazemos? Suspeito que haja alguma coisa que devemos colocar em tudo o que fazemos, da menor até a maior. Em uma comparação simples, é como fosse uma substância secreta, um ingrediente fundamental que torna todas coisas que fazemos preciosas. É uma palavra importante demais para que seja dita de novo como se fosse algo que nós já compreendemos e estamos fartos de ouvir. É a palavra mais importante e mais gasta de todas, e por isso não a direi, pois imagino que vocês já saibam bem do que estou falando.

Lembro-me agora de alguns desenhos que fiz para meus pais quando era criança. Eram todos muito toscos e muito iguais. Retratavam uma família de palitinhos felizes com o sol sorrindo no fundo, um coração e uma casinha mal desenhada… Pergunto-me porquê. Mas meus pais não pareciam se incomodar. Afinal, eles não estavam preocupados com a técnica artística empregada. Eles amavam os desenhos – prova disso é que ou guardavam com carinho ou então colavam na porta de seus armários – justamente por serem tão toscos, e ao mesmo tempo, tão significativos.

Acho que Deus é mais ou menos como meus pais. Tudo o que temos pra oferecer a Deus é sempre muito tosco comparado ao que ele mesmo é e já possui. No entanto, ele não me parece incomodar-se com isso. Pelo contrário, gosto de pensar que ele coleta cada pequeno presente tosco que oferecemos para ele com muito cuidado e carinho, e guarda-os em seu coração. Gosto também de pensar que talvez algum dia Ele irá nos mostrar de novo cada um desses presentes que demos para Ele. Meu receio, porém, é que nesse dia nós nos sintamos muito tristes por ter dado tão pouco a um Pai que merecia tanto, e que recolhia cada pequeno presente nosso com tanto amor e carinho.

Sobre a eternidade e o valor incalculável do tempo

Enquanto somos jovens, raramente chegamos a compreender quão breve realmente é a vida. Frequentemente ouvimos as pessoas dizerem que o tempo corre veloz, mas na maioria das vezes não damos muita importância à essas palavras do senso comum. Por isso, fazemos planos distantes, e afastamos nosso pensamento da morte. De fato, vivemos a maior parte do tempo como se não fôssemos morrer, ou como se estivéssemos destinados a construir nossa morada aqui na terra para nela habitar para sempre.

A monotonia e o sofrimento de nossas vidas também geram a impressão de que o tempo corre devagar. Tola ilusão! O verdadeiro parâmetro para compreender o sentido do tempo não é comparando-o ao que é passageiro, mas sim ao que é eterno. Afinal, o que é o tempo da vida humana se comparado à eternidade? Mesmo os mais longevos entre nós não viverão mais que 120 anos.

É por essa razão que quero hoje dizer, e dizer aliás com toda a ênfase que possível for, que NADA É MAIS URGENTE PARA NÓS, SERES EFÊMEROS1, DO QUE VIVER A VIDA INTEIRAMENTE À LUZ DA ETERNIDADE. Em outras palavras, precisamos sempre viver com a consciência e a atitude de quem sabe que seu exíguo tempo na terra irá desaguar na eternidade, exatamente como ocorre com aqueles pequenos rios que deságuam no majestoso mar.

Atentai-vos: é o tempo que se converterá na eternidade, e não o inverso. Se contudo não vivermos desde já à luz da eternidade, subordinando as coisas temporais às eternas a fim de atingir nosso fim último – que é participar na glória da comunhão divina do AMOR – então seremos lagartas que morreram antes de se tornarem borboletas. E não há nada mais dramático e trágico do que isso – é o maior fracasso possível, é o próprio inferno!

A partir daí se compreende o valor do tempo que dispomos na nossa vida. Tanto mais valioso quanto mais raro. O mesmo se passa com o ouro e o diamante. Muitíssimo mais valioso que eles, porém, é o tempo na terra, que um dia se esgotará para sempre e jamais poderá ser recuperado; seu valor é incalculável. À ele só poderíamos comparar à uma pessoa querida que perdêssemos, e que nada nem ninguém no mundo poderia substituir, pois é única.

Que é o tempo vida humana, portanto? Píndaro já dizia que não passa do “sonho de uma sombra”… Que acordemos, então, caros irmãos e irmãs! Pois “A noite vai adiantada e o dia vem chegando” e a verdade é que não temos mais muito tempo. Que não sejamos surpreendidos, quando, no momento da nossa morte, percebermos que toda nossa vida não passou de um breve instante de tempo que agora adentra a eternidade:

E isto digo, conhecendo o tempo, que já é hora de despertarmos do sono; porque a nossa salvação está agora mais perto de nós do que quando aceitamos a fé.

A noite é passada, e o dia é chegado. Rejeitemos, pois, as obras das trevas, e vistamo-nos das armas da luz.

Andemos honestamente, como de dia; não em glutonarias, nem em bebedeiras, nem em desonestidades, nem em dissoluções, nem em contendas e inveja.

Mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo, e não tenhais cuidado da carne em suas concupiscências.

Romanos 13:11-14

  1. A palavra efêmero vem do Grego EPHEMEROS, que significa “curto, o que dura apenas um dia”, de EPI, “sobre”, mais HEMERAI, “dia”.

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