Puritas cordis (pureza de coração) significa muito mais para os Santos Padres do que perfeição moral ou mesmo ascética. É o fim de um longo processo espiritual de transformação no qual a alma, perfeita na caridade, desapegada de todo o criado, livre de todo movimento desordenado das paixões, é capaz de viver absorta em Deus, sendo penetrada, de quando em vez, por intuições vivas de sua ação, intuições estas que tocam as profundezas dos mistérios divinos, que “abraçam” a Deus, numa íntima e secreta experiência, não só de quem Ele é, como do que está fazendo no mundo. O homem que é puro de coração não só conhece a Deus como ser absoluto, ato puro, mas o reconhece como Pai das Luzes, Pai de Misericórdias, que tanto amou o mundo que lhe deu seu Filho Unigênito para o redimir. Tal homem o conhece, não apenas pela fé, pela especulação teológica, mas por uma íntima e incomunicável experiência.
Extraído de “O pão no deserto” (Bread in the wilderness) de Thomas Merton, Editora Vozes, 2008, tradução pelas Irmãs da Companhia das Virgens, pp. 30-31.
Deixe um comentário