FABER, Frederick William. O purgatório. Ecclesiae: São Paulo, 2013.

No apêndice do livro “O purgatório” do Pe. Frederick William Faber, encontramos uma preciosa “Oração e súplica pelas almas do purgatório”, criada pelo Pe. Vitor Jouet, M.S.C., fundador da “Associação do Sagrado Coração para Alívio e Libertação das Almas do Purgatório”.

Trata-se de uma oração que se baseia em um “passeio pelo purgatório” a fim de entrevistar algumas almas que lá se encontram. Cada dia da novena começa com um “colóquio”, no qual será dirigida uma pergunta à uma alma do purgatório:

“De que te arrependes, santa alma do Purgatório? Que fizeste na terra que deixaste?”

Pergunta feita à cada uma das 7 almas do purgatório

Então, em cada um dos 7 dias da oração, a alma entrevistada revelará qual é seu maior arrependimento, totalizando “7 arrendimentos das almas do purgatório”:

1. Arrependo-me do tempo perdido

“Não o julgava nem tão precioso, nem tão rápido, nem tão irreparável… Se eu o soubesse…”

Se eu pudesse ainda repará-lo!…Tempo precioso!… Aprecio-te agora como o mereces. Tu me foste dado para empregar-te no amor de Deus, em minha santificação. no consolo e na edificação do próximo; empreguei-te porém no pecado, no prazer, em obras que agora me causam amargos pesares! Tempo tão rápido na terra e tão lento nesta prisão de fogo! Passavas outrora como o relâmpago; minha vida fugia como um sonho; e agora as horas me parecem anos!… os dias… séculos!Tempo irreparável! Na terra parecias jamais acabar; e a morte cortou o fio de meus dias, no momento em que menos o pensava.

Ó tempo perdido, eis que passaste sem esperança de voltar!

Ó! Vós que viveis ainda na terra, consagrai por nós ao Coração de Jesus algumas dessas horas em que a graça vos é oferecida em tão grande abundância e com tanta facilidade!

2. Arrependo-me dos bens dissipados

“Minha fortuna, minha saúde, meus talentos, minha posição no mundo: tudo isto poderia ter sido para mim um poderoso meio de salvação, se eu o tivesse aplicado à glória de Deus.

Quantas graças eu atrairia então sobre mim! Mas eu não quis. E todos os meus bens desvaneceram-se a meus olhos, no momento da morte. Ah! se eu dispusesse hoje desses bens perecíveis, como eu me aplicaria em adiantar um momento que fosse a minha libertação, para aumentar um degrau na glória que Deus me reserva no céu, e para fazer conhecida na terra, a mais uma alma, a devoção ao Sagrado Coração.

Vós que, na terra, dispondes ainda de alguma fortuna, lembrai-vos de que dela haveis de dar contas… Pensai nisto… Usai dela segundo a justiça, a piedade e a caridade. Pagai vossas dívidas para com os vivos e para com os mortos; dai generosas esmolas aos pobres; trabalhar pela glória do Sagrado Coração esforçando-vos, por uma piedosa liberalidade, pela difusão do seu culto até as extremidades do mundo que lhe foi inteiramente consagrado.”

3. Arrependo-me das graças desprezadas

“Elas me foram oferecidas em tão grande abundância, a cada instante de minha vida, com tão insistentes solicitação… Regeneração cristã pelo batismo, vocação, sacramentos, palavras de Deus, inspirações santas, bons exemplos, favores insignes de preservação do perigo, de socorro na tentação, de perdão depois da queda. Que soma incalculável de escolhidas graças!A umas eu recusei; aceitei friamente outras; abusei da maior parte delas.Ah! Se eu tivesse hoje, num só momento, a liberdade de estancar minha sede nas fontes de misericórdia que jorram do Coração Sagrado de Jesus, e que os pecadores e os indiferentes desprezam!Escutai o que santa Margarida Maria vos diz do alto do Céu, como nós vô-lo dizemos: Não há ninguém no mundo que não experimente toda espécie de socorros, uma vez que não falte para com Jesus Cristo um amor reconhecido tal como é aquele que lhe é testemunhado pela devoção a seu Sagrado Coração. (Obras de Santa Margarida Maria, tom. II, 86).”

4. Arrependo-me do mal cometido

“Outrora parecia-me ele tão sem importância e tão agradável! E por isso eu sufocava os remorsos em meio dos prazeres… Hoje seu peso me esmaga, sua amargura faz o meu tormento, sua lembrança me persegue e me dilacera. Pecados graves perdoados, mas não expiados; faltas leves, só muito tarde eu compreendo agora a vossa malícia!

Ah! se eu pudesse voltar à vida… nenhuma promessa, por fascinante que fosse, nenhuma honra, nenhum prazer, nenhuma palavra sedutora seria capaz de me incitar a cometer o pecado.

Vós que ainda tendes a liberdade de escolher entre Deus e o mundo, contemplai os flagelos, os espinhos, a cruz, que torturaram Jesus; eles vos dirão o que nossos pecados lhe custaram.

Pensai nos arrependimentos tardios e dolorosos que haveis de ter de vossas faltas no Purgatório, e nada vos custará confessar, no Sacramento da Penitência, todas as do passado, para sofrer no presente a pena que ainda lhes é devida, e para evitá-las no futuro.”

5. Arrependo-me dos escândalos dados

“Se, ao morrer, eu tivesse podido eliminar as tristes conseqüências de meus escândalos!… Se eu pudesse deter daqui, no declive do abismo, tantas pobres almas que seguem meus tristes exemplos e meus maus ensinamentos!… Mas não é possível, e por minha culpa ainda se comete o mal e isto se dará durante anos, séculos, e me são exigidas contas da parte que me cabe sobre todos os pecados de que me fiz a causa. Se me fosse permitido fazer chegar minha palavra insistente até as extremidades da terra, e percorrer como missionário o mundo inteiro, como esforçar-me-ia para desviar as almas do vício e conduzi-las à virtude.

Vós que vindes visitar-me em minha prisão tenebrosa, e que fazeis brilhar a meus olhos um raio de luz, possuis no Sagrado Coração o meio mais seguro e mais fácil, cooperando com a sua graça, reproduzindo suas virtudes, animando-vos de seu zelo de converter muitas almas, em número maior ainda do que o número daquelas às quais escandalizei.”

6. Arrependo-me da penitência omitida

“Como ela teria sido fácil, ontem, no mundo!… Como ela é penosa, hoje, no Purgatório!… Aqui o menor dos meus sofrimentos está acima das maiores dores da terra. Lá eu não teria então outra coisa a fazer senão aceitar com resignação o trabalho, a dor, a contradição; privar-me de alguns bens supérfluos, para com eles ajudar os pobres; praticar obras satisfatórias; fazer uso das práticas de piedade.
Que poderia haver de mais fácil?! … Ah! se Deus me permitisse voltar à terra, nenhum regulamento me pareceria exigente demais, nenhum martírio me causaria terror. Não haveria para mim senão suavidade nas mais rigorosas penitências, ante a idéia deste grande sofrimento, que eu evitaria por meio delas.Vós que sofreis nesse vale de lágrimas, alegrai-vos: a mais leve pena cristãmente suportada em vista de vossos pecados, para satisfazer à justiça de Deus, e oferecida ao Sagrado Coração em espírito de reparação, pode poupar-vos um longo e penoso Purgatório.”

7. Arrependo-me da pouca caridade que tive na terra para com as almas do purgatório

“Poderia ter-lhes sido tão útil durante minha vida. Orações, penitências, esmolas, boas obras, Comunhões, santas Missas, devoção ao Sagrado Coração; de quantos meios eu dispunha para consolar estas pobres almas, retidas como prisioneiras nesta morada de trevas e sofrimentos!

Se eu tivesse utilizado bem desses meios, teria alcançado para mim graças poderosas para evitar o pecado e para ir diretamente ao céu; teria ao menos merecido um Purgatório mais ameno, mais rápido, e também teria uma maior participação no fruto das orações que de toda parte se oferecem por nós.

Ah! se eu pudesse voltar à terra, ninguém seria mais devotado do que eu às almas sofredoras! De quantas Missas participaria e quantas faria celebrar por elas! Quantas orações encaminharia aos céus em favor delas!… que esforços não faria para suscitar em seu favor a compaixão de todos!

O que eu não fiz, quando podia, vós, almas cristãs, não deixeis de fazê-lo enquanto ainda tiverdes tempo.”